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No passado dia 4 de julho as eleições gerais do Reino Unido colocaram um ponto final aos 14 anos de governação do Partido Conservador. O Partido Trabalhista, liderado pelo agora primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, alcançou a maioria absoluta com 412 deputados eleitos, um aumento de 211 lugares em relação às eleições de 2019.
Nascido em 1962, Keir Starmer é advogado de profissão, especializado em matéria de direitos humanos. Entre 2008 e 2013, exerceu funções como diretor do Ministério Público. Chegou a deputado em 2015, eleito pelo círculo eleitoral de Camden, no norte de Londres, onde, em 2019, obteve quase 65% dos votos. Tornou-se o líder do Partido Trabalhista em 2020, quando Jeremy Corbyn deixou o cargo.
O desempenho de Keir Starmer nas eleições de 2024 coloca-o no topo dos resultados registados pelos principais líderes trabalhistas, como Clement Attlee e Tony Blair. Conseguindo eleger 412 de 650 deputados, os trabalhistas igualaram o segundo melhor resultado de Tony Blair. O partido ficou a seis lugares de igualar o seu melhor registo de sempre, nas eleições gerais de 1997.
Em segundo lugar, mas com uma grande diferença, seguiu-se o Partido Conservador, do anterior primeiro-ministro, Rishi Sunak, que apenas elegeu 121 deputados. Foi uma eleição histórica também para os conservadores, mas pelo lado negativo. O partido teve a sua pior votação de sempre, sendo que o valor mais baixo de mandatos obtidos tinha sido registado em 1906 com 156 lugares.
O resultado destas eleições reflete o estado do Partido Conservador, que se vê desgastado após mais de uma década no poder e pela falta de competência dos últimos executivos. A vitória esmagadora dos trabalhistas pode ser também atribuída à insatisfação dos eleitores com a forma como o governo conservador lidou com a crise do custo de vida, ou por causa dos conflitos internos do partido. Olhando para os votos em percentagem, passam dos 43.6% obtidos nas eleições de 2019, para apenas 23.7%.
A terceira força política em termos de assentos parlamentares são os Liberais Democratas, com 12.2%. Foram capazes de registar um bom resultado, aproveitando parte do eleitorado britânico descontente com o desempenho dos Conservadores ao longo destes anos para ganhar votos. Os chamados Lib Dems reforçam a sua posição no parlamento, passando de 11 deputados eleitos para 72 deputados eleitos.
Com uma distância maior de votos, segue-se o Partido Nacional Escocês, que perde bastantes assentos, elegendo apenas 9 deputados; e o Sinn Fein, que mantem os seus 7 deputados eleitos. Tanto o Partido Unionista Democrático como o Reform UK conseguiram eleger 5 deputados. Vale a pena notar que o Reform UK em termos de percentagem, obteve uma maior percentagem de votos que os Lib Dems (14.3%)
O aumento da percentagem de votos para a direita populista espelha a tendência registada noutros países europeus, sugerindo um apoio substancial e persistente a estas ideias num contexto de incertezas políticas e económicas. Os reformistas elegem pela primeira vez, incluindo o seu líder, Nigel Farage. O partido ganhou força significativa nos círculos eleitorais com uma maior proporção de eleitores que votaram a favor da saída da União Europeia no referendo de 2016. Lembrando que esta foi a primeira eleição geral desde que o Reino Unido saiu formalmente da União Europeia.
Por sua vez, tanto os Verdes como o Plaid Cymru elegeram 4 deputados. O Partido Social Democrata e Trabalhista elege dois deputados, e tanto o Partido da Aliança da Irlanda do Norte, como o Partido Unionista do Ulster e o Partido Unionista Tradicional elegem 1 deputado apenas. Foram ainda eleitos 6 deputados independentes.
As eleições gerais de 2024 marcaram o pior desempenho na história do Partido Conservador, com muitas figuras proeminentes, incluindo a antiga primeira-ministra Liz Truss, a perderem os seus lugares. Apesar disso, foi uma grande noite para o Partido Trabalhista, os Lib Dems, e o Reform UK, cada um com uma vitória importante para o seu futuro na política britânica.
Apesar disto, a afluência às urnas foi baixa, com apenas cerca de 60% dos eleitores a votar, o que reflete não só o descontentamento do eleitorado para com o último governo, mas também uma possível falta de otimismo em relação ao próximo, sendo um desafio para o novo governo trabalhista.
Olhando para o futuro, é provável que a política no Reino Unido seja moldada pela eficácia com que o Partido Trabalhista será (ou não) capaz de conseguir resolver as muitas questões urgentes que enfrenta como novo governo. Outro aspeto que certamente irá moldar a política britânica nos próximos tempos vai ser a postura que os Conservadores vão adotar para se reorganizarem e responderem a esta derrota histórica.
Recentemente, seguindo a tradição britânica, o rei Carlos III celebrou o início da nova legislatura com o “discurso do rei”. Neste discurso o rei apresenta o programa do “seu” governo na Câmara dos Lordes, perante os seus membros e os da Câmara dos Comuns. Keir Starmer entende que não se trata de uma situação fácil, e prometeu uma renovação social. A economia, a saúde e a habitação são tidas como prioridades, e o novo governo ambiciona estimular o crescimento económico do país, combater as desigualdades e investir na transição para energias renováveis.
Referências
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Morton, B. (2024, 3 de julho). The Sun backs Labour saying it’s “time for change”. BBC News. https://www.bbc.com/news/articles/cd1751vv0z7o
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Politico. United Kingdom – 2024 election results. https://www.politico.eu/europe-poll-of-polls/united-kingdom/
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Santos, I. (2024, 5 de julho). Eleições históricas no Reino Unido. Trabalhistas destronam conservadores com vitória esmagadora. RTP Notícias. https://www.rtp.pt/noticias/mundo/eleicoes-historicas-no-reino-unido-trabalhistas-destronam-conservadores-com-vitoria-esmagadora_n1583986
Schickler, J. (2024, 4 de julho). Quem é Keir Starmer, o próximo primeiro-ministro do Reino Unido?. Euronews. https://pt.euronews.com/my-europe/2024/07/04/quem-e-keir-starmer-apontado-pelas-sondagens-como-o-proximo-primeiro-ministro-do-reino-uni
Schickler, J. (2024, 5 de julho). Seis conclusões das eleições no Reino Unido. Euronews. https://pt.euronews.com/my-europe/2024/07/05/seis-conclusoes-das-eleicoes-no-reino-unido
Miguel Toscano, Licenciado em Relações Internacionais pela Universidade de Évora, Mestrando em
Relações Internacionais pela Universidade de Aalborg
Durante os estudos passou por várias associações estudantis, tendo sido presidente no NERIUE em 2021. Para além disso, profissionalmente já teve experiência nos ramos da investigação e da gestão de projetos. Tem forte interesse em temas das RI como a Governança Global, Estudos de Desenvolvimento e Estudos Ambientais.
