Num discurso às 05:55 em Moscovo (02:55 em Portugal) no dia 24 de fevereiro, Putin anunciou que a Rússia procederia a uma ‘operação militar especial’ na Ucrânia. O líder russo afirmou ‘não ter outra opção’, alegando a necessidade de defender a população de origem russa dos alegados abusos do regime de Kiyiv, incluindo um alegado genocídio. Acusa-o de estar tomado pela extrema-direita, o que é usado para justificar esta operação com vista a ‘desmilitarizar e desnazificar’ a Ucrânia. Esta suposta ameaça da Ucrânia à população russa no país leva Putin a enquadrar esta operação como legítima defesa.
Por conseguinte, apesar de as alegações do líder russo não terem fundamento, as forças russas penetraram o território ucraniano, atacando em várias frontes, deixando um rasto de destruição em várias zonas do país. Às 23h57 (GMT) do dia 24 de fevereiro, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou que 137 cidadãos ucranianos tinham perdido a vida, número que inclui militares e civis. No final do dia, a Rússia ocupou o complexo de Chernobyl. O exército ucraniano está em clara desvantagem em várias medidas, mas o Presidente urgiu para que se continuasse a combater a invasão, invocando a lei marcial e convocando obrigatoriedade de combate para todos os cidadãos com idades compreendidas entre os 18 e 60 anos. Os cidadãos do sexo masculino que reúnam estas condições não podem deixar o país.
Na Ucrânia, a situação é de preocupação e alarme. A ONU estima que mais de 100 000 tenham abandonado as suas casas em fuga, ao passo que países vizinhos como a Polónia, a Hungria e a Moldávia reportaram a chegada de famílias em fuga. Vídeos de ferimentos e explosões têm sido divulgados e nas ruas sente-se grande pânico, visível, por exemplo, na capital Kiyiv, onde cidadãos têm procurado abrigo nas estações de metro subterrâneas ou se têm deparado com grandes filas nas estradas ao tentar fugir da cidade.
A reação internacional tem sido pautada por mensagens de condenação e por sanções. O Presidente dos EUA Joe Biden condenou o ataque, que apelidou de ‘injustificado’, referindo que teria uma resposta ‘unida e decisiva’ dos EUA e dos aliados ocidentais. O Primeiro-Ministro britânico Boris Johnson também prometeu uma resposta ‘decisiva’ a este ‘empreendimento hediondo e bárbaro” por parte do Reino Unido e aliados. A Presidente da Comissão Europeia Ursula Von der Leyen condenou Putin por ‘trazer a guerra de volta à Europa’, prometendo um ‘pacote massivo de sanções’. A UE declarou que aprovou um pacote abrangente de sanções que visam, por exemplo, setores chave da economia russa e controlos sobre exportações e políticas de vistos. A Alemanha já anunciou a suspensão da aprovação do gasoduto Nord Stream 2, que traria gás russo para o país. Os EUA e o Reino Unido também aplicaram conjuntos próprios de sanções, que incluem, por exemplo, bloqueio de ativos financeiros de bancos russos, o impedimento que estes transacionem em dólar, e sanções a indivíduos particulares próximos do regime russo. Tudo indica que estes países estão a preparar e ponderar mais sanções, que poderão incluir a exclusão da Rússia do sistema de pagamentos SWIFT e o bloqueio de exportações russas de petróleo e gás natural. O envio de tropas para o terreno continua fora da mesa.
Estes acontecimentos são o culminar de semanas de grande tensão desde que foi descoberto um número elevado de tropas russas perto da fronteira ucraniana, número que foi crescendo e que se situou entre os 150 000 e os 200 000 de acordo com várias fontes. Em contrapartida, para a retirada das tropas, a Rússia foi exigindo a promessa escrita de que a NATO não se expandiria mais para leste, que a Ucrânia nunca seria membro e que a aliança transatlântica aliviaria os contingentes militares dos países vizinhos da Rússia. Os países da aliança rejeitaram qualquer uma destas exigências, tendo, contudo, procurado diplomacia, ao mesmo tempo que denunciavam publicamente todos os movimentos e planos russos. Promessas iniciais da Rússia de que não invadiria a Ucrânia deram lugar a uma retórica mais agressiva patente no discurso de Putin de 21 de fevereiro, em que reconheceu a independência das regiões de Luhansk e Donetsk, parcialmente controladas por separatistas pró-russos.
No mesmo discurso, afirmou que a Ucrânia foi uma criação da URSS no pós-I Guerra Mundial e que o mesmo país não passava de um “território historicamente russo” sem uma tradição de ‘statehood’, algo que foi visto por muitos analistas como uma negação do direito de existência soberana à Ucrânia e o início da concretização do sonho de Vladimir Putin de restabelecer as fronteires da antiga União Soviética e reerguer um império perdido, nas palavras do mesmo de “tornar a Rússia grande outra vez”. De seguida, a 24 de fevereiro anunciou a invasão que hoje se continua a desenrolar, invocando o argumento da expansão da NATO e necessidade de proteger o povo russo, assim como ‘desmilitarizar e desnazificar’ a Ucrânia.
– Acontecimentos ocorridos a 24 de fevereiro de 2022
A 25 de fevereiro, a invasão prossegue e várias entidades alertaram para os elevados custos humanitários e sofrimento humano que o conflito poderá causar. Após o domínio do complexo de Chernobyl, as tropas russas continuaram as suas movimentações em direção a Kiyiv. O rasto de destruição pela capital é incalculável, mas as forças ucranianas continuam a defender-se. O seu sucesso é incerto, o tempo que resistirão, num contexto de grande desvantagem militar em relação com a Rússia, também.
O apoio dos países e instituições ocidentais à Ucrânia tem sido manifestado sobretudo através de sanções económicas e financeiras à Rússia e Bielorrússia, de ajuda humanitária e implementação imediata de políticas de apoio a refugiados e de investimento de capital económico na Ucrânia, procurando evitar a queda dos seus mercados financeiros e a rutura da sua economia. A ajuda militar começou por ser muito pouco mencionada, com Biden a anunciar o envio de tropas para a Alemanha, mas a não existir um reforço da capacidade de tropas militares ucranianas. Porém, ao longo do dia foram chegando reforços de armamento e materiais médicos, sobretudo depois da iniciativa polaca em conceder diversos mantimentos bélicos. Zelensky, o Presidente da Ucrânia, com os russos a marchar em direção ao Parlamento ucraniano, afirma saber que é o alvo número um e sabe que, na sexta-feira, os ucranianos estão a “lutar sozinhos” contra os russos, como já estavam na quinta-feira. Isto faz com que o Presidente ucraniano acuse a NATO de ter receio da Rússia e, por isso, não os aceitar no pacto multilateral.
As sanções económicas e financeiras à Rússia, levadas a cabo sobretudo pelos Estados Unidos e pela União Europeia, mas também por outros países Ocidentais e não Ocidentais, encontram no outro lado da balança uma China que pode estar disponível para salvaguardar a segurança económica russa. Antes da invasão, a China legitimava as preocupações da Rússia com a sua segurança em relação à adesão da Ucrânia na NATO. Isto pode significar que a China tenha uma participação no alívio económico e financeiro russo, tendo, na quinta-feira (24), aplicado medidas alfandegárias para facilitar importações avultadas de trigo russo.
As tropas russas seguem, sem hesitação, o seu rumo a Kiyiv, sabendo que Putin pode conseguir resguardar-se de sanções, devido à subida do preço do barril de petróleo e de crude e à forte influência russa no fornecimento de gás natural e energia à Europa. Ademais, os soldados russos sabem que na sua chegada a Kiyiv o número de soldados ucranianos é bastante inferior. Para colmatar esta situação, Zelensky procura auxílio junto do Grupo Nove de Bucareste para formar uma coligação anti-guerra.
– Acontecimentos ocorridos a 25 de fevereiro de 2022
A noite de dia 25 para dia 26 teve uma importância extrema para o desenrolar dos acontecimentos, uma vez que a resistência ucraniana em Kiyiv conseguiu manter o seu controlo sobre a mesma, provando ao invasor que não se renderá nem deixará a sua capital cair facilmente. A manutenção de Kiyiv foi conseguida através da resistência popular e das forças militares ucranianas, sem apoio internacional militar direto (i.e. tropas) da União Europeia e da NATO – uma vez que a Ucrânia não faz parte destas instituições internacionais, não sendo um Estado membro. A queda de Kiyiv não será uma tarefa fácil para Putin e Zelensky quer que o mundo saiba disso, ao mesmo tempo que apela a “todos os amigos da Ucrânia” que queiram lutar ao lado dos ucranianos para se juntarem a eles. A todos aqueles que se juntarem à resistência, Zelensky e a resistência conceder-lhes-á armamento.
Perante este acontecimento, Zelensky afirma que “ganhou” o direito de pertencer à União Europeia e apela à Alemanha e à Hungria que sejam a favor de excluir a Rússia do SWIFT. Pouco tempo depois, Mario Draghi aceita o apelo e manifesta-se a favor, tal como a maior parte dos países europeus. Apenas a Alemanha e a Hungria permanecem sem resposta.
Os Estados Unidos apresentam-se relutantes sobre a hipótese de retirar a Rússia do SWIFT, pois poderá causar uma aproximação entre a Rússia e a China, uma criação de um sistema alternativo não ocidental, a desvalorização do dólar e uma possível crise energética na Europa.
Por sua vez, as sanções já adotadas pela União Europeia incluem uma lista de pessoas e entidades russas banidas, através do congelamento de bens e fundos (como a Putin e Lavrov), do banimento do direito de viagem, de recorrer e prover fundos. Estas medidas foram aplicadas a 654 indivíduos, incluindo os suprarreferidos, e a 52 entidades. Ademais, também há sanções no setor financeiro – nomeadamente no acesso ao mercado de capitais -, no setor energético – banindo a importação de certas matérias (i.e. refined oil), produtos e tecnologias -, no setor dos transportes e nas normas do visa de diplomatas e negociantes russos.
Este confronto bélico já fez com que mais de 100.000 refugiados ucranianos se dirigissem à Polónia. As Nações Unidas prospetiva que a guerra possa levar cerca de 5 milhões de pessoas a deixar a Ucrânia.
A tensão bélica e os confrontos militares, acompanhados de extrema violência continuam a ocorrer, havendo registo de air strikes, ataques navais e no solo em Odessa, Mykolaiv, Kherson e Melitopol (onde os russos proclamaram a cidade, mas ainda há resistência) no sul; em Poltava, Kharkiv (onde se apresenta forte resistência ucraniana) e Summy no nordeste; em Chernihiv, Brody e Kiyiv no noroeste.
– Acontecimentos ocorridos a 26 de fevereiro de 2022 até às 13h50
Orbis.
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Fontes
https://www.bbc.com/news/world-europe-60504334
https://www.bbc.com/news/live/world-europe-60454795
https://www.bbc.com/news/world-europe-60125659
https://www.aljazeera.com/news/2022/2/24/explainer-russias-invasion-of-ukraine-what-we-know-so-far
https://www.ft.com/video/d042792e-1704-4fa6-b2b5-219d78457dce
https://www.aljazeera.com/news/2022/2/24/putins-speech-declaring-war-on-ukraine-translated-excerpts
https://www.reuters.com/world/europe/extracts-putins-speech-ukraine-2022-02-21/
https://www.aljazeera.com/news/2022/1/27/china-warns-us-over-ukraine-interference-in-winter-olympics
https://www.ft.com/content/1ba0169b-9345-4ff5-b7f5-88449a8a5e21
https://www.ft.com/content/8b99b33b-92b0-42f4-ac02-ecbc9fae4c4c
https://www.ft.com/content/35d50bc3-bc44-48a3-9e7d-98dc48a901db
https://www.ft.com/content/07bbc5c7-e620-4734-83b5-7bb261363c35
https://www.ft.com/war-in-ukraine
https://www.ft.com/content/60170757-2fad-4db9-b959-2fc088cc4bc6
https://theintercept.com/2022/02/22/ukraine-vladimir-putin-martin-kimani-speech/
https://www.aljazeera.com/news/2022/2/26/100000-ukrainians-flee-to-poland-amid-russian-attacks
https://www.ft.com/content/4351d5b0-0888-4b47-9368-6bc4dfbccbf5
https://www.aljazeera.com/news/2022/2/25/we-are-defending-our-state-alone-says-ukraines-president
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