Os Social Media como agentes da Democratização

 As opiniões expostas neste artigo vinculam exclusivamente os seus autores.

Um olhar sobre o mundo atual irá certamente confrontar-nos com a existência de movimentos de contestação social por parte de vários cidadãos. Estes movimentos emergem numa sociedade cada vez mais global e digital, onde as plataformas digitais e as redes sociais adquirem grande protagonismo. 

Esta multiplicidade de movimentos sociais que se vão construindo no mundo da web e Internet é muitas das vezes favorecida pelas vantagens do online, que sustenta e difunde as causas de muitos destes movimentos. É nesta era, cada vez mais globalizada e dinâmica, que os Social Media são utilizados como veículo de sustentação e afirmação destas ideias. 

Em primeiro lugar, cabe destacar que os Social Media, ao conectarem pessoas de todo o mundo, oferecem aos cidadãos oportunidades de se expressarem e compartilharem abertamente as suas ideias, opiniões e pontos de vista. Em segundo lugar, os Social Media mudaram as normas de participação, bem como as maneiras pelas quais os cidadãos se envolvem com a política. Por fim, contribuem para uma sociedade mais participativa, informada e, desse modo, mais plural e democrática (Gil de Zúñiga et al, 2018).

Neste sentido, será pertinente refletir sobre a problemática agent-structure na dimensão de análise para refletir sobre como é que a atividade destes agentes pode moldar a realidade social; ou seja, como é que a atividade humana molda as próprias circunstâncias sociais em que se situa? Dessa forma, a problemática agent-structure está concertada na abordagem do contexto social (estruturas, instituições e recursos culturais), moldes e forma da atividade social, e na maneira como tal atividade transforma e constrói o contexto social (Wight, 2006). 

Neste mundo, os media adquirem uma dimensão bastante relevante na medida em que assumem a dimensão de atores discursivos nas sociedades. Através dos seus meios verbais e não verbais, reportam toda a informação disponível em tempo real e adaptam-na às circunstâncias mediáticas dos fenómenos em questão. No caso dos movimentos sociais nas plataformas de informação, assistimos a uma profunda aliança entre os meios tecnológicos e as zonas de partilha de informação, que nos permite colocar estes cidadãos e as suas ideias em rede (Scherer-Warren, 2006).

São estes agentes, tanto os Social Media, como, por exemplo, um ativista, que estão a definir os novos comportamentos quer ao nível internacional, quer ao nível nacional. Com o seu impacto e ligação em rede, visualizamos uma mobilização por várias redes sociais que implica fortes consequências em vários planos. Este link criado entre os Social Media e a participação política veio reforçar esta ideia de que a participação democrática tradicional dos cidadãos começa a ser definida noutras plataformas, nomeadamente, nos meios de comunicação ou redes sociais  (Boulianne, 2015, 2018).

Assim, esta dimensão dos Social Media permite que as populações reforcem o seu papel participativo na vida democrática e contribuam para o estreitar de laços entre vastos movimentos de reivindicação social. O seu papel enquanto agentes de mudança da realidade social torna-se inevitável, assim como as suas repercussões no espaço público (Gil de Zúñiga et al, 2018). 

A melhor evidência empírica de que os movimentos socias de hoje estão certamente incluídos nos Social Media está esboçada na existência de movimentos que nascem e adquirem dimensões consideráveis através de um tweet ou de uma partilha no Facebook. Todavia, os protestos de rua não são menos importantes hoje do que foram para os movimentos no passado, e desse modo podem realmente ser mais difíceis de motivar as pessoas para a reivindicação das suas ideias, na era das redes sociais. Além disso, os alvos dos movimentos socias (governos, militares e policiais) também estão presentes nas redes sociais e sabem usá-las de uma forma muito eficaz, como uma ferramenta de vigilância. (Kidd; McIntosh, 2016).

Por fim, esta análise permite-nos ter consciência do peso deste ator e da sua decisão de ter impacto, ou seja, a sua Agency. Através da ligação entre Social Media e as plataformas digitais, observamos que muitos dos movimentos socias de contestação ou reivindicação criam processos de influência e de decisão que contribuem para a democratização da sociedade. Estes envolvimentos na esfera democrática permitem aos cidadãos alinharem os seus valores e princípios através de manifestações impulsionadas pelos Social Media.

Bruno Filipe Gonçalves de Almeida

Mestrando em Relações Internacionais- Estudos da Paz, Segurança e Desenvolvimento

FEUC

Bibliografia

Boulianne, S. (2015) “Social media use and participation: A meta-analysis of current research”. Information, Communication & Society, 18 (5), pp. 524-538. doi:10.1080/1369118X.2015.1008542

 

Boulianne, S. (2018) “Twenty years of digital media: effects on civic and political participation”. Communication Research, 17 (7), pp. 1-20. doi: 10.1177/0093650218808186

 

Gil de Zúñiga, H.; Huber, B.; Strauss, N. (2018). “Social media and democracy”. El profesional de la información, 27 (6), pp. 1172-1180. doi: 10.3145/epi.2018.nov.01

 

Scherer-Warren, I. (2006). “Das mobilizações às redes de movimentos sociais”. Sociedade e Estado, 21 (1), pp. 109-130. doi: 10.1590/S0102-69922006000100007

 

Kidd, D., McIntosh, K. (2016). “Social media and social movements”. Sociology Compass, 10 (9), 785-794. doi: 10.1111/soc4.12399

Wight, C. (2006). Agents, Structures and International Relations: Politics as Ontology. Cambridge: Cambridge University Press.