O Equilíbrio de Poder

Qualquer análise ao conceito de Equilíbrio de Poder nas RI, muito provavelmente, não consegue deixar de salientar duas das suas principais características: por um lado, a sua extrema importância dentro do léxico desta área disciplinar e, por outro, a sua mais do que apontada ambivalência conceptual. Ora, dificilmente existem duas características que se revelam tão nocivas uma para a outra: por ser extremamente relevante, o conceito é muitas vezes discutido; por ser ambíguo, estas numerosas discussões correm sempre o risco de ambíguas se tornar. Uma análise ao conceito de Equilíbrio de Poder deve, por isso, delimitá-lo o melhor que conseguir, colmatando a sua ambivalência para fazer jus à sua importância.

Uma tipologia como aquela proposta por Richard Little (1989), ao distinguir entre duas formas de conceptualizar e de representar metaforicamente o Equilíbrio de Poder, acaba por ter um efeito benéfico para uma melhor compreensão deste conceito em geral.

Little define, por um lado, o Equilíbrio de Poder Adversativo, conceção que parte do princípio de que os Estados são agentes maximizadores do poder, numa permanente busca pela expansão do seu poder uns face aos outros (isto é, do seu poder relativo). Mutuamente suspeitos e hostis, as suas interações fundam-se em moldes adversativos, pelo que o Equilíbrio de Poder entre si formado se assemelha, metaforicamente, a uma balança: os pratos desta balança (os Estados) tentam sempre aumentar o seu respetivo peso relativo, presos numa relação adversativa.

Já o Equilíbrio de Poder Associativo parte, por sua vez, da noção de equilíbrio justo: um equilíbrio construído com vista à promoção dos interesses de todos os intervenientes. Nas RI, este ponto de equilíbrio será aquele no qual nenhum Estado se encontre demasiado poderoso (ou, por outras palavras, hegemónico) no sistema internacional, a ponto de ameaçar a independência dos restantes. Desta forma, este segundo modelo conduz-nos não à imagem de uma balança, mas sim de um arco/corpo, sugerindo que um equilíbrio justo interestatal pode ser coletivamente construído para o maior benefício securitário de cada uma das partes,

Ricardo Neves
Mestre em Ciência Política e Relações Internacionais

NOVA-FCSH

Leituras recomendadas

LITTLE, Richard – Deconstructing the Balance of Power: Two Traditions of Thought. Review of International Studies. Cambridge: Cambridge University Press. 15:2 (1989). 87-100

 

LITTLE, Richard – The Balance of Power in International Relations: Metaphors, Myths and Models. 1ªed. Cambridge: Cambridge University Press, 2007. ISBN 978-0-521-69760-6